Muitos empreendedores acabam se equivocando em relação a esse tema. E não estou falando apenas de jovens empreendedores, mas até mesmo de grandes empresas estabelecidas que podem desaparecer por não terem um propósito claro ou aderente ao mercado, algo que tem acontecido e muito. Vou deixar um pouco mais claro.
Esta imagem tem percorrido o feed de notícias do LinkedIn e mostra como grandes empresas perderam espaço para alguns negócios disruptivos. Embora seja muito emblemática e didática, ela possui alguns erros. Vamos tomar como exemplo o caso Blockbuster Vs Netflix.
Você deve se lembrar de quando havia pelo menos uma Blockbuster em cada um dos principais bairros da cidade. Atualmente, não só ela, mas todas as locadoras de filmes praticamente desapareceram.
Sim, os tempos mudaram, mas será que uma gigante como a Blockbuster não conseguiria sobreviver de alguma forma nos tempos de hoje? A resposta é sim. Todavia, o erro da Blockbuster não foi a multa por atraso, como afirma a imagem. O erro foi no propósito de sua existência que estava defasado perante ao mercado.
No início, a Netflix era um simples serviço de locação de DVD. O usuário alugava no site e um motoboy entregava no endereço solicitado. Houve um momento em que a Blockbuster teve a oportunidade de comprar a Netflix, mas não deu sequência. Provavelmente, em sua posição de líder, a “arrasa quarteirão” não se intimidou pela jovem rival. Mas, com o tempo essa concorrência se tornaria desleal.
A Blockbuster, assim como as outras locadoras, estava no negócio de aluguel de mídia. Seu propósito era simplesmente entregar um produto audiovisual para o usuário. Sabemos disso, pois todas as “inovações” da Blockbuster se concentraram somente na entrega da mídia e não no modo de consumo, como por exemplo a entrega 24 horas e muitas cópias de um grande lançamento – estratégia perigosa na hora de estruturar o modelo de negócio.
Já a Netflix estava no negócio do entretenimento e seu propósito era fornecer a melhor experiência de consumo audiovisual para o cliente – com certeza, em sua sede, a empresa tem uma frase na parede que é muito mais bonita e poética do que esta que deixei em destaque.
E como sabemos disso? Basta pensar na evolução do modelo de negócios e na proposta de valor da Netflix. Antes, ela entregava DVD’s e isso evoluiu até a plataforma de streaming que conhecemos hoje. E não para por ai, pois constantemente, ela tem aprimorado mais e mais a experiência do usuário, desde recomendações personalizadas até a possibilidade de baixar o conteúdo para assistir offline. Isso não é uma ótima experiência para quem acompanha sua série favorita no ônibus ou no metrô?
Perceba então que o propósito da empresa, focando na experiência do consumidor, é muito diferente do propósito da Blockbuster, mesmo que ambas estivessem fornecendo entretenimento audiovisual. E agora, a grande pergunta: Quando alguém te recomenda um filme ou uma série, você pergunta se tem na Blockbuster ou na Netflix?
Como no exemplo acima, percebemos que o propósito de uma empresa não é apenas o que ela faz no sentido objetivo e imediato, mas na entrega pela perspectiva do seu cliente.
Dessa forma, é possível tornar o seu negócio perene em meio às constantes mudanças de paradigmas que temos testemunhado nos últimos anos. Não só isso, mas ter um propósito focado em seu cliente também faz com que a sua empresa seja um grande motor para as inovações em sua área de atuação.
Voltando à imagem no início deste artigo, percebemos que empresas como Uber e Airbnb romperam os grandes axiomas de seus respectivos negócios.
Como assim uma empresa de transporte não possui uma frota? Como a maior rede de hospedagem não possui um imóvel sequer? Anos atrás, estas ideias pareciam algo inconcebível. Porém, estas empresas entenderam que seu propósito estava diretamente ligado a perspectiva do usuário, possibilitando o surgimento de modelos de negócio totalmente novos e impensáveis pelas grandes e rígidas empresas, cujo porte e presença eram seus grandes pilares.
Para quem já conhece a ClearSale sabe que ela é uma empresa que presta serviços antifraude. Bom, isso não deixa de ser verdade. Mas, muito mais do que isso, você já parou para pensar que a ClearSale também está no negócio da confiança?
O slogan “liberdade para vender” fala muito sobre isso e sobreo ponto de vista do cliente. Pois, ao invés dele se preocupar em fazer a gestão do risco da fraude, ele pode ficar tranquilo para focar em seu core business e confiar que a ClearSale vai cuidar da veracidade de dados nas transações de seus consumidores.
Repare que a mensagem principal não é sobre fraude, mas sim sobre confiança entre todos os participantes desse sistema. Foi graças ao propósito ligado à confiança que a ClearSale também conseguiu expandir seu mercado de atuação e otimizar os índices de aprovação. Se este propósito fosse algo simplório como “acabar com a fraude”, que incentivo haveria para aprimorar cada vez mais a experiência do bom consumidor?
O propósito de sua empresa não é algo etéreo ou subjetivo. Pelo contrário, é preciso ser objetivo e muito claro. O tom poético acaba aparecendo, pois um propósito verdadeiramente focado na perspectiva do cliente nada mais é do que uma melhora na qualidade de vida. É para isso que surgem as empresas – ou deveria.
Dessa forma, se você tem um negócio ou planeja abrir um, pense com carinho em qual é o seu propósito. Ele será o trilho principal que levará sua empresa para um futuro próspero. Ele pode ser alterado, mas nunca traído. Você pode e deve evoluí-lo para acompanhar as tendências de mercado, mas nunca saia do eixo principal. E lembre-se, o propósito não é o que você faz ou entrega para o seu cliente e sim o benefício e experiência que ele está recebendo a partir de sua perspectiva e acima dos seus produtos ou serviços.
Não tem problema em ser cool e deixar o escritório colorido, cheio de puffs e frases na parede. Só não deixe seu propósito tornar-se apenas uma peça de decoração. Se não, em breve a parede vai cair.
*Artigo escrito por Gustavo Henrique Baptista Rodrigues, formado e pós-graduado em Cinema e criação publicitária e planejamento de campanhas, além de fundador da GUP Comunicação.