*Com informações da Agência Brasil
Desde que se acostumou com a realização de pagamentos por boleto e cartão, bem como transferências bancárias via DOC e TED, o brasileiro passou a sentir a necessidade de maior agilidade nestes processos bancários, que, além de demorados, muitas vezes cobram taxas elevadas pelos serviços.
A boa notícia, no entanto, é que o Banco Central do Brasil anunciou recentemente a criação de uma nova plataforma que deve praticamente acabar com estes gargalos do sistema. Batizada como Pix, estará disponível para toda a população em outubro, para cadastro, e a partir de novembro para transacionar, e promete ser uma verdadeira revolução no mercado financeiro brasileiro.
O Pix é um novo arranjo de pagamentos para transferências instantâneas que promete simplificar, agilizar, baratear e trazer mais segurança à cadeia de processos bancários necessários para a realização dessas transações.
Por meio do Pix, pessoas poderão transferir valores, pagar contas e recolher impostos de forma rápida, intuitiva e prática. Ao contrário do que se vê nas restrições de dias e horários para a realização de DOCs e TEDs, a nova plataforma funcionará 24 horas por dia, 7 dias por semana e com o dinheiro imediatamente disponível ao recebedor.
Isso quer dizer que não será mais necessário esperar dias para a compensação de pagamentos e transferências, independente de dia, horário ou instituição bancária. Além disso, o uso do PIX em estabelecimentos físicos dará ao consumidor a opção de sacar dinheiro por meio da plataforma. Bastaria acordar com o lojista, por exemplo, que para uma compra de R$ 100,00, o pagamento via PIX seria de R$ 200,00, tendo os R$ 100,00 excedentes sendo entregues, em espécie, como uma espécie de troco ao consumidor.
Na regulamentação do Banco Central, bancos e fintechs com mais de 500 mil contas ativas deverão, obrigatoriamente, se adequar para oferecer e receber o serviço.
De acordo com o Banco Central, o objetivo é facilitar e agilizar os pagamentos e transferências entre pessoas, empresas e entidades governamentais. Com a implantação do PIX, o país ganha mais uma alternativa para efetuar transações, além dos modelos tradicionais já existentes, como TED, DOC, boleto, cheque, cartões e dinheiro em espécie.
Na prática, o Pix funcionará como funcionam hoje as transferências de valores entre contas do mesmo banco. Ou seja, sem uma terceira parte responsável pela intermediação deste processo.
Isso quer dizer que não importa se o dia não for útil, se o horário não for comercial ou se o valor foi maior ou menor, pois a liquidação será praticamente imediata, e o recebedor terá, em poucos segundos, os recursos disponíveis em sua conta.
Além disso, as transações poderão ser realizadas entre pessoas, entre pessoas e estabelecimentos, entre estabelecimentos e para entidades governamentais, nos casos de recolhimento de impostos.
Para usar o Pix, será preciso que pagador e recebedor façam um cadastro de uma chave (CPF, e-mail ou celular) que ficará vinculada a uma conta PIX em um banco, uma instituição de pagamento ou uma fintech. A conta não precisa ser apenas corrente, já que as transações poderão ser feitas usando uma conta de pagamento ou de poupança.
As transações poderão ser feitas por meio de QR Code, com a padronização que o Banco Central tem chamado de BR Code – ideia parecida com a padronização pela qual passaram as tradicionais maquininhas, quando passaram a aceitar diversos cartões em um mesmo equipamento –, ou a partir da inserção de informações simples na plataforma, como número de celular, e-mail, CPF ou CNPJ (as chaves de cadastro do PIX).
Serão definidos dois tipos de QR Code para as transações. O primeiro é o estático, que poderá ser usado em múltiplas transações, permitindo a definição de um valor fixo para um produto ou a inserção do valor pelo pagador. Poderá ser usado para uma transferência entre duas pessoas, por exemplo.
O QR Code dinâmico será de uso exclusivo para cada transação e permitirá a inserção de informações adicionais, o que facilita a conciliação e automação comercial. Ele servirá para o pagamento de uma compra em um supermercado ou em um restaurante, entre outras possibilidades.
Assim como tudo o que surge de novidade quando se fala em pagamentos, principalmente quando eles são instantâneos, o PIX certamente também já movimenta as quadrilhas de fraudadores em busca de brechas em sistemas de segurança. E com isso, claro, surge a dúvida sobre o que tem sido feito para prover segurança a esta nova opção.
Pela regulamentação do Banco Central, a segurança contra fraudes ficará sob a responsabilidade das empresas que fornecem serviços de carteira digital e de meios de pagamento, o que obrigará muitas delas a procurar serviços de parceiros especializados em prevenção e combate a fraudes. O que, aliás, é recomendável que todas façam.
No caso do PIX, a velocidade com a qual as transações serão realizadas traz outro grande desafio do ponto de vista de segurança, pois o tempo hábil para a identificação de uma tentativa de fraude é significativamente reduzido, e os fraudadores provavelmente já estão atentos a isso.
E é justamente por este cenário que é preciso buscar ajuda em empresas especializadas, que sejam capazes de equilibrar tecnologia avançada com inteligência humana qualificada para escalar as análises e entregar um tempo de resposta aceitável para a velocidade do PIX.
Vale ressaltar que a proatividade das empresas será fundamental neste caminho. Quem adotar uma postura simplesmente reativa e esperar os ataques para tomar ações tende a ter sérios problemas do ponto de vista de segurança.
De acordo com o diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução do BC, João Manoel Pinho de Mello, além da rapidez e praticidade dos pagamentos instantâneos, o PIX provocará maior competição no mercado de pagamentos, com a redução dos custos e melhoria na qualidade dos serviços.
“Essa iniciativa, em linha com a revolução tecnológica em curso, possibilita a inovação e o surgimento de novos modelos de negócio, e promove a inovação dos pagamentos, reduzindo o risco operacional e as dificuldades relacionadas ao uso do dinheiro em espécie”, ressaltou.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou que este é um dos projetos mais importantes da instituição para este ano. Segundo ele, a ideia partiu de uma demanda das pessoas, e vem sendo bastante discutida pelos bancos centrais como instrumento de pagamento barato, rápido, transparente e seguro.
“O projeto vai ser o embrião do que deve ser uma transformação total na intermediação financeira futura do país, e vai unir a nova forma de meios de pagamento com a nova indústria de fintech e com o open banking. É um sistema totalmente interoperável e que permitirá que todo mundo consiga abrir seus dados e sua conta para serviços financeiros específicos “, disse Campos Neto.
Neto destacou que o sistema vai baratear o custo das transferências financeiras e vai eliminar a necessidade das pessoas portarem dinheiro físico. “Acreditamos que a intermediação financeira vai transformar o mundo de pagamentos no Brasil e, com esse sistema, junto com outros que estão por vir, vamos ter formas diferenciadas de fazer as transações financeiras no país."
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