15/07/2021 • 4 min. de leitura

Inovação: para se obter lindas flores, não basta somente escolher as melhores sementes

Ao contrário do que muitos pensam, a inovação não é algo que se projeta do início ao fim, não é algo onde se sabe o resultado a priori. Assim como um jardim de flores ornamentais, é algo que brota, que emerge a partir de inúmeros cuidados. Ao semear flores, pode-se controlar muitas coisas, como solo, exposição ao sol, a rega, a combinação das sementes. Ainda assim, nunca se sabe de onde surgirão as mais majestosas delas...

É claro que um belo jardim começa com a escolha e a combinação das sementes, afinal, não é de se esperar que se brotem hortênsias com sementes de tulipas. O jardim ainda vai depender da combinação ideal de sementes para que se obtenha algo amplamente harmonizado e notável ao final. De nada adianta, porém, escolher sementes promissoras e relegá-las a qualquer canto, esperando que um dia algo próspero brotará de lá. Na minha vida de executivo, já vi pessoas brilhantes que não conseguiram um bom ambiente de trabalho e deixaram bônus milionários na mesa em troca de condições favoráveis à execução de seu potencial inovador.

De nada adianta escolher sementes promissoras e relegá-las a qualquer canto, esperando que um dia algo próspero brotará de lá.

Os talentos precisam de espaço tanto quanto as sementes precisam do solo adequado para germinar. Igualmente importante, o excesso de rega também pode destruir o floreio. Analogamente, a pressão pode matar a capacidade inovadora... Há que se haver liberdade, em seus mais amplos sentidos: liberdade para pensar, para errar, para experimentar, para viver, para fazer a conexão das ideias, para se trabalhar no momento que mais for propício à produção. Se você podar a flor, nunca saberá a beleza com a qual se depararia ao fim.

Há espécies de plantas mais tolerantes à exposição solar e outras menos, mas todas precisam do sol para a fotossíntese. Da mesma forma, seus talentos precisam estar expostos às dores dos clientes para serem solucionadas. Sem contato com os clientes - melhor, sem a observância do trabalho do cliente - seus talentos não criarão mais do que produtos jubilosos de pouca ou nenhuma utilidade. Às mudas que precisem mais de sol, que mais sol tenham, o inverso é verdadeiro. Entretanto, sem nenhuma iluminação, não haverá florescimento. A combinação ideal do sol com a rega são os elementos da evolução. Na inovação, são o contato com o problema associados com o tempo para criar.

Sem contato com os clientes, seus talentos não criarão mais do que produtos jubilosos de pouca ou nenhuma utilidade.

O solo é a cultura. Todos sabem que em solos de longo tempo de monoculturas não se conseguem outros tipos de plantios. Uma cultura punitiva, isolacionista, teatral, inautêntica, sem fluidez de informação, é como terra batida, seca, é terra sem nutrientes, morta. Pode-se comprar as melhores sementes do mundo, neste ambiente, nada nascerá. Empresas gigantes e consolidadas só tem encontrado o caminho da inovação através de renovação, via investimento em startups, via áreas autônomas em sua execução que se tornam verdadeiros laboratórios. Tudo isso livre do ambiente corporativo, das políticas e das metas de curto prazo, os grandes assassinos da capacidade inovadora. A cultura da inovação é a cultura do empreendedorismo, do erro, da mutação e da experimentação, do foco no cliente, do compartilhamento de informações e do feedback sincero.

Para se ter um majestoso jardim, ha que se livrar das ervas daninhas e de toda a sujeira do ambiente, de tudo o que possa prejudicar o florescimento. Não há nada que mais dói para um talento do que ver a mediocridade tomando seu espaço, a retórica vazia, as flores murchas que compartilham dos mesmos nutrientes. A mediocridade mata os talentos e não há tragédia maior para uma empresa do que a perda dos seus talentos, nem mesmo a perda dos clientes. A preservação dos profissionais de baixa performance são uma ofensa aos de alta performance, tiram seu brilho, sua beleza, sua motivação.

A mediocridade mata os talentos e não há tragédia maior para uma empresa do que a perda dos seus talentos, nem mesmo a perda dos clientes

A diversidade contribui com a variância da inovação. É da pluralidade de flores que nascem os jardins mais feios, mas é também de onde podem sair os mais encantadores. Ao mesclar diferentes sementes em diferentes experimentos, há de nascerem jardins distintos, contrários. Algum destes experimentos resultará em algo esplendoroso. Ao combinar diferentes pessoas, com diferentes crenças e históricos, das diferentes áreas de conhecimento, você formará grupos com resultados, muitas vezes, decepcionantes. Fortuitamente, porém, você encontrará inovações disruptivas, que podem mudar o futuro de uma organização.

Há que se visitar, conversar, provocar, demover a mediocridade e promover o risco, sabendo que muitas iniciativas não prosperarão.

Os jardins não nascem sozinhos, tampouco florescem sozinhos saudavelmente. Requer cuidado, atenção, manutenção, limpeza. A inovação requer a atenção da liderança, pois a cultura é o que o líder faz ou tolera. Se o líder promove uma cultura de inovação, assim fará toda a empresa. Há que se visitar, conversar, provocar, demover a mediocridade e promover o risco, sabendo que muitas iniciativas não prosperarão. Para quem pensa que tudo isso envolve muita energia e que ela poderia ser canalizada para outros fins, talvez a inovação não seja realmente algo a ser conquistado. Muitas vezes as flores podem ser vistas somente como adornos e o foco ser a monocultura bem feita. Ainda que se compre o jardim pronto, sem o cuidado adequado, ele murchará e desaparecerá. Por outro lado, quem tem a paciência, a resiliência e o brilho no olho de estar promovendo algo livre, autêntico e potencialmente grandioso, terá a satisfação de sempre poder caminhar pelos mais admiráveis e floridos parques.

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Escrito por

Sócio e presidente da ClearSale, Dr. Bernardo Lustosa tem diploma em Estatística pela Unicamp e mestrado em Economia Empresarial com foco em Finanças pela UCB-DF, além de doutorado em Administração de Empresas pela FGV-SP. Bernardo também é empreendedor de destaque da Endeavor, investidor anjo e empresário certificado pela universidade de Stanford, nos EUA, após concluir o Stanford Executive Program 2019.

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